Há
algum tempo atrás eu costumava dar umas voltas pela Praça São Sebastião. É um
lugar localizado no centro de Manaus, um pouco distante de onde resido. Eu lá
andava para realizar meu ofício de jornalismo, principalmente em Dezembro, em
que o fluxo de pessoas praticamente triplica. As festas de fim de ano sempre
atraem mais pessoas para esses locais onde montam árvores natalinas –
monstruosas - e um excesso de luzes que me dói à vista, nada bom para meu
astigmatismo. Foi em um desses dias, lá por quinze de Dezembro, que algo me
chamou a atenção. Naquele vai e vem de pessoas, tanto barulho e tanto
blá-blá-blá, eis que uma mulher caminha com sua filha. Eu estava lendo um livro
de bolso qualquer e já havia terminado meu turno do trabalho. Sentada no banco,
eu me deliciava com uma pipoca – a melhor daquela praça, sem dúvidas. – e em um
instante parei minha leitura para prestar atenção no movimento. A tal mulher
com sua filha de aproximadamente seis anos sentaram-se no banco ao lado do meu,
e aparentemente era uma pessoa qualquer, que se senta ao seu lado para deixar
sua filha ir brincar com outras crianças... Mas não. De início nada pensei,
porém, é inevitável meu instinto de observação. Minha pipoca acabara, e o
cansaço já chegava à mente, me impedindo de entender qualquer parágrafo do
livro, um que fosse. Eu já quase me retirava, quando começava o melhor da
noite. Ou o pior.
Observei
as vestes da mãe, eles não chegavam nem aos pés da humildade. Na camisa, ou
poderia desconfiar que tivessem diamantes... E os sapatos então, eram tão altos
e reluzentes que a filha ficava reduzida abaixo da cintura. Esta última também
não ficava de fora, suas roupas eram da melhor marca, talvez importadas.
Comparando à minha camiseta regata e minhas calças jeans, vi-me na condição de
mendiga. Porém, não é este o ponto em que quero chegar. A garotinha dos cabelos
dourados e olhos de mel pediu um algodão doce, enquanto terminava de amarrar os
cadarços de seu sapatênis. A mãe respondeu-lhe que esperasse. O moço que vendia
algodão doce já virava as costas, foi quando a menina alegou que ficaria sem o
seu doce.
-
Mãe, ele já vai!
Depois
de ser chamada, retirou os olhos de seu celular. Não parecia nem um pouco
contente quando a filha falou pela segunda vez. Mandou, furiosamente, que
chamasse o moço. E seus olhos voltaram para o aparelho eletrônico. A menina não
só o chamou como correu em direção a ele. Seus cabelos encaracolados voavam ao
vento, foi quando passei a admirar seus gestos. A mãe, quando percebeu a filha
correndo, novamente se enfureceu. Ao longe, ela falava com o moço do algodão
doce e apontava para o assento em que sua mãe estava. Os dois foram na direção
apontada, e ele manuseava o seu carrinho com extrema facilidade. Eu me lembrava
dele. Dias sim, dias não, o via por ali. Era um senhor um pouco mal vestido,
mas sempre sorridente, com quem as crianças adoravam comprar. Recordei-me de
certa vez que comprei dele, porém, foi a única. Nunca gostei demasiadamente de
doces.
A
expressão da senhora continuou a mesma. Sua filha parecia muito feliz quando
soube que receberia seu tão esperado doce. Porém, não durou muito tempo, pois
foi puxada com extrema raiva pelas garras de sua mãe. Esta disse para que
aquela não se retirasse mais nem um instante do banco, e alegou que a menina
estava ficando suada e fedida. Não aumentou o tom de voz, mas quero que saiba,
querido leitor, que ignorância não tem volume. Ela existe até silenciosamente.
O senhor do
algodão doce já se cansava de escutar todo aquele sermão sem motivo, ainda mais
da mãe de sua cliente – a cliente mais delicada que já tivesse visto, eu
creio. A senhora olhou-o de cima a
baixo, e perguntou o preço do algodão doce.
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